segunda-feira, 29 de março de 2010

Para os pais e não só, umas palavras para ler durante as férias da Páscoa...

Crónica porque sim, de Daniel Sampaio (Pública, 21/02/10):
"A segunda metade do século passado consagrou a intervenção na infância e na adolescência como factor importante na futura saúde mental dos adultos. (...) Sabe-se hoje que os primeiros anos de vida são importantes para o futuro (...). No seu célebre estudo longitudinal realizado na ilha de Wight (1995), com o objectivo de identificar os factores de risco com maior impacto nas trajectórias de desenvolvimento, Rutter identificou seis factores de risco para a perturbação mental:conflito conjugal grave dos pais; baixo nível socioeconómico; perturbação psicológica da mãe; família numerosa; colocação extrafamiliar; e criminalidade parental. Os resultados desta investigação sugerem ainda que a presença de vários factores de risco multiplica o risco de psicopatologia e que a ocorrência de patologia na infância aumenta a probabilidade de um diagnóstico psiquiátrico na adolescência. (...) Em Portugal tem havido uma maior atenção ao período pré-escolar, no entanto escasseia uma cultura da infância, com definição de prioridades e trabalho multidisciplinar. Multiplicam-se os esforços isolados, mas persiste uma grande dificuldade em trabalhar e modo sinérgico ou em valorizar as boas práticas já existentes. (...) Pode fazer-se muito, mesmo no momento actual (...) garantir o apoio aos casais em conflito conjugal grave (...), as mães com doença mental, com filhos até três anos a seu cargo, deveriam ser atendidas com prioridade por equipas de saúde mental com formação específica, ao mesmo tempo que deveriam ser reforçados os programas de intervenção parental (...), as creches e os JI deveriam constituir prioridade no sistema de ensino (...) porque antes da aprendizagem das letras convém garantir um mínimo de bem-estar emocional que as permita compreender (...)".
Teremos todos de fazer o tal esforço conjunto e articulado, na certeza de que prevenindo precocemente, estaremos a contribuír para uma trajectória de vida mais positiva e saudável. Gostariamos de ver os Anos Incríveis não como um esforço isolado, mas parte dessa tal cultura da infância e da intervenção parental, que ainda necessitam de ser reforçadas no nosso país. Seria bom, que um programa como este, pudesse estar disponível para qualquer família, em todos os Centros de Saúde, Hospitais Pediátricos, JI e Juntas de Freguesia de Norte a Sul e do Litoral ao Interior de Portugal.

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